Poemas de Tere Vareschi


Poemas do "Novo Alvorecer: Da Escuridão Rumo à Luz"
1985-2000




Estes são os poemas do “Novo Alvorecer: Da Escuridão Rumo à Luz”, dedicados a todos os Companheiros de Caminhada, na busca da realização da Divina Presença: EU SOU, em Si Mesmos. Que jamais se deixem vencer pelos períodos de provações, pela "Noite Escura da Alma", pela depressão, pela tristeza, pela dor, pois no fundo do poço há sempre a volta prá Cima, para o Alto, para a Luz...


Com os poemas do “Novo Alvorecer: Da Escuridão Rumo à Luz”, retratei a fase de 1985-2000, onde mergulhei em poços escuros e profundos, para poder beber da Água da Vida. Voltei curada, plena de Luz, muita Luz!O sofrimento foi, por muitas vezes, meu grande mestre, pois bem se diz, aqui neste plano que podemos aprender, pelo amor ou pela dor. e parece que estamos tão acostumados a sofrer que acabamos optando pela dor. Eu, não fui exceção à regra...


Entretanto, todo o tempo, lá presente a me sustentar estava o Infinito Amor que emana Dele/Dela em Mim. Agora posso louvá-los com todo o amor que tenho e que vem Deles que sempre me amaram, me amam e me amarão, por todo o sempre, pois Eles e Eu somos UM. Somos todos UM!


Só peço que  a Luz ilumine tantas mentes e corações tão embrutecidos pela discórdia, pelo ódio, pela desarmonia. Que o Amor Divino traga serenidade e conforto a tantos necessitados. Que a energia do  Pai/Mãe Divinos, interpenetre cada partícula do nosso planeta, de nosso corpo, de nosso espírito, e nos faça vibrar em consonância com sua Força tão poderosa, tão purificadora e liberadora.

Agradeço com vibrações de Paz, Abundância, Amor e Harmonia...




A nova que Dele temos ouvido e vos anunciamos é esta: Deus é Luz e Nele não há treva alguma... Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão recíproca uns com os outros... Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e Seu Amor em nós é Perfeito”.
(Primeira epistola de São João)

26/10/2000
Meu Ser Se Abriu Por Inteiro

Um dia, meu ser se abriu por inteiro.
E então, a Luz do Divino me iluminou toda!
Fiquei tão transparente, mas tão transparente,
Que senti me desvanecer e me tornar
Partículas de Luz, pura Luz...
Luz que iluminou toda a terra, os ares e mares.


E assim entrei em todas as casas, todos os lares,
Hospícios, prisões, bordéis, hospitais, mosteiros.
Senti as dores, os amores...
Entrei no coração de quem ama e de quem odeia
E partículas e partículas de Luz que eram Eu
Impregnaram de Amor Divino todos os ambientes,
Todos os lugares e de repente, tudo que existia era Luz,
Só Luz, muita Luz a rodopiar, a girar,
A contagiar de alegria Todos e Tudo...


Assim, com a alma aberta por inteiro,
Tirei os sapatos e qual criança senti o calor da Mãe Terra.
Me impregnei dos odores, dos perfumes que Ela exalava.
Me embriaguei com tanta cor, tanta harmonia e cantei...
E a música das esferas entrou em meus ouvidos,
Em meus poros, em minhas células,
E elas rodopiaram e dançaram,
E assim a canção celestial
Contagiou todos os meus órgãos, músculos e ossos...
E o meu corpo era todo Luz a girar, a girar.


E assim girando, voei pelos ares.
Respirei o ar das alturas mais sutis.
Me tornei a águia que voava,
A gaivota, o beija-flor, o bem-te-vi, a sabiá...
Do alto, do mais alto penhasco, vi o sol nascer e vi o sol se por,
Tudo pegando fogo...
Matizes e matizes de mil cores a se misturar,
A se combinar e pintar a mais linda aquarela,
Todos os dias, e nunca igual!
E me maravilhei ante a criação esplendorosa do Senhor...

Sobrevoei o mar,
Mergulhei nas ondas das águas mais puras, transparentes,
Que me limparam o corpo,
Me lavaram a alma.
E impregnada de sal, novamente voei...
Deslizei sobre campos e campos de flores...
O néctar de mil flores me alimentou.
E senti que pela minha cabeça deslizava o mais puro mel,
Que desceu pelo meu corpo
E impregnou de doçura todo o meu ser...


Com tanta doçura e suavidade
Desci à terra novamente...
Meus pés descalços tocaram o solo.
Deles, saíram raízes que entraram na Mãe Terra.
Por elas, o mel se espalhou no seu ventre e a fecundou.
Gaia, com um grito de júbilo
Recebeu o presente do seu Amado...
E assim plena, deu a luz a mais mil flores,
Frutos, pássaros e seres de luz...
Que impregnaram a terra e
Despertaram no coração de cada ser humano
Um desejo imenso, intenso,
De poder participar deste Banquete Divino
Que une o Céu à Terra
E ao qual somos todos convidados!


E assim extasiada fiquei, e chorei e chorei...
Minhas lágrimas salgadas transformaram-se
Nas águas doces e suaves da nascente de um rio
Que desceu as montanhas, percorreu os vales,
Saciou a sede de todos os seres vivos,
Lavou o corpo e a alma de todos...
Depois se evaporou,
Subiu aos céus, para novamente descer
Na forma de chuva
E abençoar a amada Terra,
Novamente impregnado-a do Amor do seu Amado.


E assim extasiada permaneci
Calma, tranqüila,
Cheia de Luz, de Vida e de Amor,
Após ter recebido meu Amado que mora em mim
Que sussurrou este poema, através de minha Alma
Quando ela se abriu por inteiro...





 
1985-1999 

“Escuridão e Luz. Tanta escuridão, sem saber naquele tempo, que na escuridão já existia tanta, tanta Luz...”.




Rios de Lágrimas

Choro, choro rios e rios de lágrimas
Choro toda a eternidade
Choro e vejo o anjo
Anjo de pedra,
Tão lindo!

Recordar parece tão difícil
Mas de repente o fluir é tal,
Tal qual a correnteza de um imenso rio
Que detê-la impossível.
Melhor, mais sensato, navegar com ela.

Me inundo e as palavras são ocas
E tão poucas para exprimir
Este caudal de sentimentos,
Emoções, recordações...
Recordar, deixar fluir
Deixar vir à tona,
Tanto, tanto sentir...

Me sinto explodir
Sendo bombardeada por uma energia
Tão poderosa, tão intensa, tão forte
Que flui, flui e flui,
E me faz querer explodir,
Desintegrar,
Para enfim poder Ser.


Pai, faz de mim um instrumento da tua Luz
Amo a Vida
Amo o existir com um amor tal
Que me aquece o peito
Me inunda a alma
E olho o anjo de pedra
Tão lindo, imóvel, silente
Querendo me dizer tantas coisas...

Meu Deus, por onde andei?
Onde fui que esqueci de Ser?
Por quais caminhos vaguei?
Que encruzilhadas trilhei,
Buscando, buscando
E onde fui, que parei?
E onde fui, que esqueci?

Acho meu Pai que todo este indagar
É de somenos importância.
Tantos caminhos andei,
Quantas cruzes carreguei,
E agora na tua Presença
Neste corpo físico
Neste planeta Terra
Começo a me lembrar

Oh, meu Pai
A tua Presença me envolve
O teu fluir é uma vida constante
Você, meu Pai é eu
É o meu irmão
É toda a humanidade
Você, meu Pai é os planetas,
As estrelas, a natureza
Todo o Cosmos
Você é um constante fluir
Do que é o melhor, o mais perfeito
E em cada coisa que tu criaste,
Tu, meu Pai deixaste este teu fluir.

Na escuridão, tu vives
Nas trevas, tu também estás
E teu fluir é constante, eterno,
Que a tudo pode transformar
Com o Amor e a Luz infinda
Que tu emanas.

Sou tão pequena na tua presença
E sou tão grande também
Sou tão pobre
E sou tão rica
Sou o teu Vir a Ser
E sinto tanto Amor por tudo que me cerca
E sou infinitamente grata a ti, meu Pai
Pelo meu existir
Pela consciência que tenho, neste momento,
Deste existir.

Pai, no meu despertar,
Qual um bebê
Conto com a tua proteção
Que sei nunca me faltará
Com tua força, para me apoiar
Quando eu vacilar
Pai, que as palavras tão lindas
De São Francisco
Eu possa realmente vivenciar:
“Faz de mim um instrumento da tua Vontade e da tua Luz”



Sou... Apenas um ser que quer Ser

Sou... Escrevo: sou...
Sou, por Deus, o quê?
Quem me entende nessas horas de agonia?
Quem me atende quando tudo dói?
Ai que descrença infinita,
Ai que vontade de não ser nada, ínfimo objeto
Qualquer coisa, menos gente.
Gente, prá que?
Sem objetivo, sem nexo, sem rumo...
E Deus, meu Deus onde andará?

Nesta busca infinda de mim, Deus onde andará?
No que creio?
O que busco?
Meus anseios?
Sei lá !
Mas lá no fundo, uma voz se ergue e clama
E brada e brame:
Nem louca, nem perdida,
Nem confusa, nem nervosa,
Apenas e tão somente
Um ser que quer Ser
É só!


Enfim Sou

Quando eu não tiver lugar mais para onde ir
Quando eu não precisar procurar mais
Pois procurar já nada mais significa;
Quando o coração não mais doer
E os olhos sequer uma lágrima verter.
Quando o coração parar,
O pensamento nada mais for,
Os músculos não mais ficarem retesados, doidos, tensos.
Enfim, talvez, quando eu toda parar, desistir,
Me cansar, me entregar,
Aí, quem sabe estou Lá e enfim Sou...



Qual lagarta no casulo

Com quem compartilho meus sentimentos?
Com quem desabafo meus anseios?
Quem entende?
E por quê, prá que entender?
Mais fácil prá mim me julgar louca, insensata,
Psicótica, nervosa, histérica.

Não acho meus rumos.
Cada vez mais me sinto só,
Muito só...
Todo um universo poveia o meu ser;
Tanta coisa já não mais me serve;
Muita coisa, não quero mais,
Mas, não sei o que realmente quero.


Não quero mais ser criticada,
Empurrada a tentar um caminho qualquer.
Quero meu tempo,
Meu espaço, um lugar meu
Onde as definições,
Minhas definições possam irromper
E chegar à tona.

Não sou mais o que eu era
E não sei o que vou ser.
Eu estou como uma lagarta no casulo,
À espera, à espera
Sem saber no que vou me transformar...


Mergulho I

Fecho os olhos e mergulho,
Mergulho prá dentro de mim
E este mergulho calmo, tranqüilo, profundo
Me leva aos confins do meu ser.

Lá dentro, bem dentro,
No mais recôndito dos lugares
Há um espaço que é só meu.
Lugar calmo e tranqüilo.
Silencioso...

Tentar descrevê-lo
Impossível parece.
Lá, o coração bate fraco, fraco
Lá, a respiração quase não acontece
Lá, o mundo externo deixa de existir
Lá, Eu Sou, Eu Sou, Eu Sou...

Sou, o quê ?
Sou, simplesmente sou
Sem palavras, sem discursos
Sem filosofias, sem nada
Sou...
E este Ser me preenche plenamente
E este Ser me nutre totalmente
É como após um dia estafante voltar prá casa
A casa da gente, um lugar só teu...

Lá, sou a cachoeira de águas cristalinas.
Sou o perfume da mata
Sou os raios de sol refletidos, cá e lá na água.
Lá, sou o silêncio de mim mesma
Ai, que bom ter podido resgatar, enfim
Este espaço tão precioso dentro de mim.


Os Mestres não existem....será?

E vem e vai como uma onda...
As lágrimas rolam
Angústia, opressão, desânimo...
Um mestre que busco...

Pensamentos que vão e vêm...
Mestres não existem!
Será que não?
Lá, outra voz: E se existirem?

E eu, as lágrimas que rolam,
O que guardo,
Que me sufoca o peito?
O que quero?
Que busca é esta?
Por enquanto,
Não sei!

Corpomente

Tensão nos músculos
Dor no estômago
Que poema é este que fala de dores físicas?

Pois é,
Eu, poema, corpomente
Um corpo, uma mente
Corpo-Mente
Talvez um dia CorpoMente.

Por enquanto corpo que sofre
Mente que mente
Corpo-mente, mente-mente
Quem sabe um dia
Corpomente
Um só!



Poço Escuro

Poço escuro...
Depressão...
Mergulho nas trevas do inconsciente
A energia se esvai.
Roupa prá lavar
Casa prá limpar
Poço escuro
Lágrimas
Peito oprimido
Corpo cansado
Lágrimas
Depressão..

Privacidade (Um canto só meu)

Sem sentido
Sem nexo
Sem rumo
Filhos gritando, brigando.
Vou trancar a porta!
Quero paz
Privacidade
Um canto meu
Espaço só meu.
Filha gritando
Filho chorando.
Vou trancar a porta!
A chave sumiu!
Acho que quem vai sumir sou eu...


Nulidade

Prisão
Um quarto, as almofadas...
Eu, prisioneira de mim mesma
Sufocada dentro de mim
Peito fechado
Olhos opacos
Corpo caído
Quase morto
Olhos sem vida,
Sufoco
Respiração trancada
Peito oprimido
Um desfalecer do ser
Nulidade
Nada...

Sono Profundo

Sono profundo
Quero dormir um sono profundo
Me deixar fluir neste entorpecer
Tento reagir ou sei lá se quero reagir
Prefiro ficar agora como estou
O cesto cheio de roupa
Comida prá fazer
Um sentido a buscar em tudo
Prá que? Prá que?
Quero dormir um sono profundo
Esquecer, me esquecer, num sono profundo...

Bichos Internos

Árvores que podem ser mortas
Esbraveja minha sogra ao telefone
Vão ser assassinadas!
Telefone! Faça alguma coisa
Diz minha sogra ecológica.

Ela preocupada com árvores, cães e pássaros
Eu preocupada com meus bichos internos
Enjaulados, encarcerados
Uns mansos, outros selvagens
Uns dóceis, outros hostis
Não me mexo, não faço nada
Neste momento, não quero sequer existir
Apenas me diluir...

Livros e Livros e Livros...

Olho para os livros
I Ching, Mahatama Gandhi
Yogananda, Krishnamurti,
Leadbeater, Castaneda,
Reich, Lowen, Neruda,
Gurdjieff, Jung,
Etc, etc. etc...
“Não apresse o rio”
( Ele corre sozinho)
Gestalt-terapia...
Ao ler um artigo sobre a Gestalt
“Isto é gestalt”
Me dá um estalo, um click
E começo a escrever estes poemas...

Olho para os livros
Informações de outros
Ajudam em muita coisa
Mas de outros...
Hora de buscar a informação interna
Hora de chegar mais perto de mim
Mesma que seja, muitas vezes,
Prá sentir
Este poço escuro
Esta solidão
E muita depressão...

Sono Hipnótico

Tarot...
Venha que vai ser bom!
A Noite dos Oráculos
Você entra com o teu tarot
Coisa rápida
Não dá prá cobrar muito.
Será que vou?

Não, não tenho coragem...
Crowley é capaz de sair do túmulo!
Não quero fantasiar, nem enganar
As pessoas são facilmente induzidas
Acreditam no que convêm
Sendo-se hábil, você as facilmente convence
Elas aceitam, acreditam
Vivem um sono hipnótico.

Somos todos assim
Dormidos
Hipnotizados
Drogados pelas informações, livros, revistas
Cinema, TV, pais, sociedade
Somos assim
Marionetes, robôs programados
Vivendo vidas sem sentindo
Infelizes
Num eterno sono hipnótico...

Cópia de Cópias

E se não houvesse livros prá ler
E você tivesse que buscar dentro de você?
E se não houvesse escolas prá se aprender
E você tivesse que buscar dentro de você?

Dentro de você observar cada detalhe
A tua matemática
A tua geografia
A tua história
A tua linguagem

Não, cópia da cópia da cópia.
Um diz, outros acreditam, outros copiam
E ano após ano
Ou século após século
A cópia é a verdade
Até que outro diz, outros acreditam
Outros copiam e muda-se a verdade.

E nós, assim somos:
Cópia da cópia da cópia da cópia
Essência perdida
Alma perdida
Cópia de cópias...


O Cotidiano

O cotidiano me mata
A rotina me cansa
Sem sentido...
Não vejo sentido em nada
Nem em viver
Nem em morrer.

O cotidiano me mata
A rotina me sufoca
Vida de eterno sufoco,
Sem sentido...
Dia após dia, tudo igual...

Ilusão, não é real.
Mas prá mim parece a ilusão, real.
Fácil falar
Difícil mudar
Maya, ilusão
Como desvendar?
O cotidiano me cansa
A rotina me mata
Tudo sem sentido...

Mergulho II

Mergulho fundo
Nem sei se quero
Mas preciso
Preciso deixar a fantasia
E mergulhar fundo
Neste poço profundo e escuro.

Me apavoro,
Tenho medo
Mas sei que esta é a hora
De agora mergulhar fundo
Neste abismo profundo.

E se não tiver fundo?
Me pergunto
E se não tiver volta,
Que fazer?

Não sei responder.
Só sei que agora é a hora
De mergulhar profundo
Neste poço fundo e escuro,
Dentro de mim!


Prisão

Minha alma aprisionada
Me observa, lá de dentro
Do canto, trancafiada...

Geme, sussurra, murmura,
Bate, se debate, esmurra.
Minha alma, minha essência,
Presa entre tantos eus,
Fraca, impotente, esperançosa...

Quem sabe, um dia,
Eu abra os olhos e a veje.
E vendo me reconheça
E abra todas as portas
E serre todas as grades
E ela enfim se liberte.

Minha alma, minha essência,
Lá de dentro, me observa,
Num canto trancafiada...

Corpo

Corpo na almofada
Encolhido, enrolado
Deprimido.
Por dentro um oceano de vida
Que pulsa, pulsa, pulsa...

Psicólogos, Psiquiatras, Terapeutas

Caminhos sem chegada
Becos sem saída
Labirintos.
Corpo deprimido
Mente alucinada.

Vou aos psiquiatras, psicólogos, terapeutas
Pedindo a Deus que eles
Psiquiatras, psicólogos, terapeutas
Ao menos tenham os corpos
Menos deprimidos
As mentes
Menos alucinadas
Do que eu.

Pago prá alguém me ouvir
É, hoje é assim
Preciso pagar prá pôr prá fora
Pagar prá ver se me vejo
Pagar, pagar, pagar...
E peço ao bom Deus (coitado!)
Que ao menos eles tenham
Mais sensatez do que eu...

Loucura

Me sinto enveredar
Pelos caminhos da loucura
Não vejo sentido
Em nada
Tudo que vejo
Se dilui.
Quero ser a mais sã das criaturas
Nesta neurose imensa de Ser.
E na minha sanidade descubro
Loucura, loucura, loucura...


Menina Dócil

Deixar cair as couraças,
As máscaras,
Me desnudar
Gritar, vociferar, bradar
E depois me acalmar,
Silenciar
Grito que venha da alma
Basta! Basta! Basta!
Menina dócil, insossa
Menina quietinha
Que bom !
Assim que o papai e a mamãe gostam!!!


Vou dizer não!

Vou deixar a casa cair
Vou deixar o circo pegar fogo
Vou brincar com fogo
Vou dizer não, não
NÃO!

Vou olhar olho no olho
Vou virar fera, santa
Menina, mulher, puta
O que vier

Vou dizer sim ou talvez
Sempre que quiser.
Que o circo caia
Que a casa pegue fogo
Que eu me queime
Vou dizer NÃO!!!

A Mãe Viajou

Hoje não tem comida
Não tem roupa lavada
A casa não vai ser limpa
Os cachorros vão passar fome
Hoje a mãe saiu
Viajou prá dentro de si
Volta quando puder
E se quiser...

Dodói

Ai, o estômago me dói,
E dói, dói e dói
Dodói.

Meus medos, anseios,
Todos ali
Comprimidos no meu estômago
Dodói.

A respiração presa
O peito oprimido
O grito contido, reprimido
E o estômago
Ai, dodói...

Por não mais dizer amém

Vou gritar
Juro que vou gritar
Gritar o mais alto que posso
Gritar até deixar morrer
Este tudo contido no grito.
Vou gritar, gritar, gritar.
Aí quem sabe me internem
Por loucura, desvario
Por tentar me encontrar
E nada achar
Por não me conformar
E não aceitar
Por não mais dizer amém.
Vou gritar, gritar, gritar...

Papéis que se vive

Não quero ser mais
Esposa adorada
Mãe amada
É um vício...
Por ser amada
Te cobram.
Por ser adorada
Te exigem.
Não quero mais
Ser esposa adorada
Mãe amada.

Papéis que se vive
Que grudam na gente
Viscosos, pegajosos
Colam, se amoldam
Passam a ser nós.
Farsa, mentiras
Máscaras
Não mais esposa adorada,
Mãe amada
Papéis...

Êxtase

Entrega total
Do fundo do ser
Daquilo que sou
Sem máscaras, rodeios
Liberdade de ir e vir
Sem medos, receios
O coração falando
Todo o meu ser participando
A mente aquietada
E eu totalmente
Integralmente, extasiada...

Meditação

Incenso queimando
Vela acesa
Pensamentos se aquietando
A Alma querendo falar.
Ouço o mundo externo
Percebo o mundo interno
Vontade de permanecer
Neste estado
Alerta
Entregue
Mergulho profundo
No fundo do ser
Paz
Silêncio
Um universo a decodificar.

Ser-Luz

Cada célula vibra
Cada partícula do meu ser
Se agita
Sinto meu corpo
Observo meus pensamentos
Tudo se aquietando
Estado de paz
Tranqüilidade
Respiração profunda

Anseio e quero mergulhar
Neste universo interno
Aprender a decodificar
Esta mensagem do Ser Luz
Mensagem do coração
Que fala de Amor
Que fala de Vida

Vontade de assim ficar
Perdida no tempo
E no espaço de mim mesma
Alerta, relaxada
Observando
Deixando que venha
Do fundo da Alma
O que tiver que vir

Ah, como anseio,
Estar cada vez mais em contato direto
Com minha Essência
Mim-Mesma
Ser-Luz


Porões

Desço aos porões da alma
Descreio de ser humana
Indecisa,sem sentido
Qual roda-vida
Tudo igual,tudo igual
Ou quem sabe
Ser humano é isto
E este não ter sentido em nada
Ser mãe.esposa,mulher
Papéis que nos aprisionam
Contos de carochinha
Ou melhor, conto do vigário
Quando você vê já caiu
Já entrou e nem viu...

Animus

Anseio qual fêmea
Que arde em brasa
Pelo meu homem-macho
Pelo meu homem-homem
Anseio pelo meu homem
Que mora dentro de mim
Que ouse,se atreva
E rompa e venha à tona
E se desnude
Dorso nu,peito aberto
Anseio pelo meu homem
Macho que mora em mim!

Senhor...Tende Piedade de Mim!

Vivo tantos papéis
E me vejo desfilando
Pelo teatro da vida
Tantos papéis...

Desde cedo me enquadraram,
Desde cedo me estamparam,
Me rotularam
Quem sabe não sou nenhum deles,
Nenhum desses papéis.
Ou quem sabe sou todos.

Quem sabe sou depravada
Sem nunca ter ousado ser!
Quem sabe sou delinqüente
Sem nunca ter pensado ser!
O que sou afinal?

Neste desfile imenso de seres
Sou todos e não sou nenhum.
Me sinto um nada
Largada
Reativa, reativa.
Mecânica...

Aí Senhor
Tende piedade de mim!!!



Habitantes

Houve um tempo
Em que me apiedava
De mim mesma e chorava e chorava,
Chorava...
Hoje ou pelo menos agora
Lágrimas não me vêm...

Parece que assisto a um filme de horror.
Ante mim desfilam
Os monstros,os vis
Os infames,pecadores,suicidas,
Desiludidos,prostitutas,gigolôs.

Ante mim se exibem
Os ousados, indecentes, sonhadores,
Sentimentais,bandidos e mocinhos,
As santas,os apaixonados

Todos, todos, sem exceção,
Personagens desta loucura
Que ouso,pelo menos hoje,
Assumir que habitam,
Todos, todos, em mim...


Nonsense

Enganos,enganos,enganos
O tempo todo me engano.
Pois não sei meus sentimentos
Desejos reais quais são.

Parece o normal estar tudo
Mais ou menos certo, para os outros.
Para mim tudo incerto.

Lá dentro alguém bate, bate...
Não consigo abrir a porta
Não consigo ver quem bate.

Meu Deus, que cansaço!
A vida há de ter um sentido
Não posso ser tão esquisita assim
Tão louca assim
Em querer e insistir
Que a vida há de ter um sentido.

E quem bate lá dentro
Sou eu mesma
Que não consigo sair de mim
Que não consigo vencer as barreiras
E fraca,fraca
De novo desisto
Pra logo depois,voltar a bater.

Aí meu Deus
Por que insisto,insisto,insisto?
Por que não aceito esta vida de gado?
Por que quero achar um sentido na vida
Aí,meu Deus
Me dê forças pra que eu não desista
E insista,insista,insista...!



Coração ( Me Gosto! )

Gosto de mim
Me gosto
É, têm horas em que me gosto...
E nessas horas, o peito
Fica quietinho,quentinho
Pois quem bate dentro dele
Me repete a toda hora:
Te gosto, te gosto, te gosto...

Fogueiras

Alimento a minha negatividade
As minhas energias inferiores
Com toneladas e toneladas de lenha
Pra que esta fogueira arda
E nunca,nunca decresça
Este fogo da incerteza,da dúvida,
Do negativo.

Enquanto isto lá dentro, bem dentro,
Arde um pequeno braseiro
Minhas energias superiores
Que mal alimento
Mal sustento.

Que tal Terezinha, me pergunto,
Que tal começarmos a por lenha
Neste pequeno braseiro
Que arde lá dentro do peito?

Qual barco à deriva

De novo a angústia no peito
De novo o torpor na mente
A vontade de nada fazer
Só ficar parada, sem pensamentos.
Largada, sem sentimentos

Um imenso vazio na mente
Uma opressão infinda no peito
A vontade de nada fazer.
FAZER!
Como se realmente eu me certificasse
De que nada posso fazer.

Dizem que pelo menos,por enquanto
Nada podemos fazer
Tudo nos acontece....
Creio nisto ou não creio?

E quando estou assim
Sem achar sentido em nada
Perdida em algum lugar de mim mesma
Observo meus humores e me vejo
Qual marionete ou melhor ainda
Qual barco à deriva
Vai onde as ondas levam
Vai onde o vento conduz
Sem rumo, por aí
À deriva...À deriva...

Pêndulo

Um dia, me amo,
Outro, me odeio.
Um dia dentro de mim, a vida arde
Noutro, a morte me espreita.

E assim oscilo, dia a dia,
Ora alegre,otimista,alto astral
Ora triste,deprimida,nas trevas.
Quem sabe é exatamente assim
Que todos somos.

E se eu não me culpasse tanto?
E se eu não me glorificasse tanto?
Se fosse mais observadora de mim mesma
Pudesse, talvez viver
Pelo menos por enquanto
Mais calma, mais tranqüila
Assistindo placidamente
Este oscilar, qual pêndulo
Que é minha vida neste instante.


Em sintonia com a Vida

Há dias em que estou mais em mim
Há dias em que estou mais presente
Com um sentimento ardente
De vida no peito.
Nestes momentos, cada célula vibra.
O ar que entra e saí é vida
Tenho até medo de tanto sentir

É um sentir da mãe Terra
Dos aromas da natureza
Cheiro de mato,
Perfume de flores
Cheiro do meu corpo
Da vida que me cerca

E fico ardendo, ardendo
Com uma paixão esquisita
Paixão de estar viva
Me sentir viva
Em sintonia com a vida
Que me rodeia.
Cada ser vivo me encanta
E me extasio...

Quero tocar, ser tocada,
Mas de uma forma não corriqueira
O toque fino e sensível
Daquele que como eu,nestes instantes
Perceba e sinta a vida correndo,
Fluindo no peito, no ar, nas veias...

Te, Tere, Terezinha,Tereza

Te, Tere, Terezinha, Tereza...
Quem é afinal essa pessoa
Que eu chamo e chamam
De Te, Tere, Tereza, Terezinha.

Um nome, um sentimento
Paixões,sensações
Quem é Te, Tere, Terezinha, Tereza?
Quem é afinal esta mulher
Que me intriga
E que não conheço?
Capaz de tanto sentir
Cheia de vida e de morte.

Quem é esta mulher
Te, Tere, Terezinha, Tereza?
Sinto o cheiro,farejo,
Sigo a trilha mas me perco.
Não,realmente ainda não.
Ainda não consigo descobrir
Quem é Te, Tere, Terezinha, Tereza...


De Mim Mesma Nada

Sinto que a minha vida se esvai
Nas quinquilharias do cotidiano
Nas demandas do dia a dia
Pequenas coisas que te exigem,
Te consomem, te exaurem...

No fim do dia
Eu paro,olho pra mim mesma
Que vejo,que sinto?
Um corpo exaurido,cansado
Uma mente que vaga sem rumo
Também cansada.

De Mim mesma nada vejo
De Mim sequer me lembrei
Sequer me senti
Sequer me atentei.

Meu Deus que dificuldade.
Que massacrante é esta
Nossa vida mecânica
Um corpo cansado
Mente exaurida
Eu e Eu sem ver
De Mim mesma nada,
Nada,nada...


Por enquanto, assim é que é...

Se eu pudesse levar comigo
Durante meu dia
A paz,o silêncio, a serenidade
Que às vezes sinto quando relaxo
Ah, como seria bom...

Corpo aquietado
Mente serena
E eu, em algum lugar de mim mesma
Calma,tranqüila
Sem conflitos
Sem ansiedades...

Mas, de repente,
O mundo lá fora chama
O cotidiano te engolfa
A vida mecânica te toma
E pronto
Lá vou eu novamente
O dia todo
Me perder,me esquecer
É, por enquanto
Assim é que é...

Essência de Mim

Vou me perder muitas vezes
Sei que vou...
Vou me esquecer de Mim mesma
Sei que vou...
Mas de ora em diante
Algo em mim é diferente

Os portões estão se abrindo
As grades sendo serradas
E quem bateu loucamente
Dentro do meu peito
Pedindo passagem
Hoje,daqui pra frente
Vai ser cada vez mais ouvida,
Atendida,preenchida.

Não busquei em vão
Não sofri em vão
Tudo,tudo foi na medida exata
E sei que recupero cada vez mais
Uma parte que é Essência de mim.


Pulsar

Ouço e sinto tão forte
E tão manso ao mesmo tempo
As batidas no meu peito.
Fecho os olhos e me entrego
Pouco a pouco
Lentamente
Qual uma onda que vem
Qual uma onda que vai
A esta cadência
Que vai e vai
E vem e vem
Do pulsar do meu coração
No peito
Este pulsar se propaga
Como onda por meu corpo
E todo o meu ser pulsa,
Pulsa na cadência do meu coração
Que bate no peito...

Trégua

Calma, tranqüila, suave,
Sentindo o calor do meu corpo
A sensação da minha pele,
O pulsar do meu coração,
Chego mais perto de mim.

E, o que chegar mais perto de mim,
Me pergunto?
Não sei, não sei, me respondo.
E parece que neste momento
Pouco importa as respostas.

De que servem palavras, pensamentos,
Para expressar o que se vive
E se sente plenamente,
Intensamente...

Viver o momento
Mesmo que por frações de segundo,
Estar presente
Nada existindo a não ser a sensação profunda
E plena de se estar
E ao mesmo tempo,
Se ver estando.

Por que insisto em tentar explicar com palavras
A vida que sinto,
Os momentos de se estar sentindo,
Sentindo-se inteira
Não, não há palavras que expliquem.
E prá que explicar?












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